domingo, 14 de dezembro de 2014

A escolha de Brittany...

Brittany Maynard é uma moça de 29 anos que foi diagnosticada logo após o seu casamento com um tumor muito grave no cérebro.
Ela anunciou então que optou por morrer no dia primeiro de novembro, valendo-se da lei que permite o suicídio assistido no estado americano do Oregon.
Um vídeo que ela produziu com a ajuda da organização Compassion and Choices (“Compaixão e Escolhas”),
principal promotora do suicídio assistido nos EUA,
foi um sucesso de audiência no YouTube.

Denis Strangman, um australiano cuja esposa morreu de uma doença similar, escreveu uma carta aberta para ela, que reproduzimos abaixo:



Denis Strangman, australiano cuja esposa faleceu com o mesmo tumor de Brittany. Tornou-se um ativista e foi Diretor da Aliança Internacional do Tumor Cerebral, entidade que presta assistência aos pacientes com essa doença e a seus familiares
Eu sinto um grande pesar ao ler que você está com um tumor cerebral e, especialmente, ao ler que você planeja se suicidar. Embora vivamos em continentes separados por milhares de quilômetros e pertençamos a gerações diferentes, eu me solidarizo com sua situação, mas não com seus planos. Fico feliz que você mesma tenha dito que está aberta para a possibilidade de tomar outro rumo. Sinceramente, tenho esperança de que você ainda irá discretamente voltar atrás, optando pela vida. Não se sinta pressionada a cumprir um prazo provavelmente estabelecido pela “Compassion and Choices” ou outros promotores do suicídio assistido.


Anúncio da entidade que promove o “suicídio assistido” nos Estados Unidos, chamada Compassion and Choices(“Compaixão e Escolhas”). Em segundo plano, está escrito: “Faça o seu planejamento”. Em primeiro plano: “Decida o que você quer. Diga àqueles a quem você ama. Comece hoje mesmo. Nós podemos ajudar.”
Você diz que seu público alvo é a Geração Y (aqueles que nasceram na década de 80). Creio que nenhum título que inventaram para a minha geração, a dos septuagenários, tenha ganhado notoriedade, mas eu e você compartilhamos a mesma humanidade, e gostaria de lhe falar sobre minha própria experiência com tumores cerebrais. Veja, temos algo em comum: estas palavras terríveis, “glioblastoma multiforme”, o mais letal dos tumores cerebrais primários malignos. Há alguns anos atrás eu perdi minha esposa Marg, com 55 anos, para esse mesmo tipo de tumor cerebral.


Família Strangman em 2001 Marg aceitou o diagnóstico e estava disposta a tentar qualquer tratamento razoável.

 Como você, ela enfrentou os efeitos adversos do Decadron: um grande ganho de peso e a perda do cabelo. Ela encontrava forças na esperança de uma recuperação, enquanto eu e ela compartilhávamos a convicção de que ela estaria caminhando para um lugar melhor. De fato, ela faleceu logo depois, apenas 11 meses após o diagnóstico, deixando a mim e aos nossos cinco filhos.

Sr. Strangman em uma conferência no Canadá. 

Depois disso, passei a defender a causa dos pacientes com tumor e de seus familiares, tendo ajudado a estabelecer a Aliança Internacional do Tumor Cerebral, da qual fui o diretor de 2005 até o início deste ano. Coordenamos e damos suporte a outros grupos ao redor do mundo dedicados à mesma causa. Durante esses nove anos em que estive exercendo esse cargo, viajei frequentemente para a Ásia, América do Norte, Europa, e até mesmo África, com a finalidade de prestar assistência aos pacientes e aos seus familiares.
Por volta de duzentas mil pessoas desenvolvem tumor cerebral todo ano. Ao contrário de você e de minha esposa, a maioria está totalmente desinformada das características de sua doença por causa da situação desesperadamente inadequada dos sistemas de saúde dos países onde vivem. Alguns deles não tem outra escolha a não ser passar os seus últimos dias em um centro de saúde local lamentavelmente despreparado.
Nós, que vivemos nos países desenvolvidos, temos grandes chances de receber um diagnóstico correto e o melhor tratamento disponível. Infelizmente, só houve um grande avanço no tratamento desse tipo específico de tumor nos últimos 30 anos. Foi o desenvolvimento do chamado “protocolo Stupp” que preconiza o uso combinado de radiação e do remédio temozolomide. Mesmo assim, apenas 26% dos pacientes tem alguma chance de se beneficiar do tratamento. Minha esposa foi a primeira a passar por esse tratamento em nossa cidade, mas não funcionou.
Viajando pelo mundo participei das conferências científicas mais importantes onde os pesquisadores explicam suas pesquisas — em Edimburgo, Berlim, Yokohama, Washington, Chicago, São Francisco etc. Não tenho credenciais médicas, mas aprendi nessas conferências e nas muitas revistas especializadas que literalmente centenas de pesquisadores ao redor do mundo estão trabalhando para encontrar uma cura para esta doença. Encontrei muitos dos investigadores dedicados a este tema. Muitos grupos de pesquisa e empresas estão buscando novas terapias para os que sofrem desse tipo de tumor. Ficaria contente de poder falar pessoalmente com você sobre esse assunto, se você desejar.


Denis Strangman e uma paciente com tumor cerebral. No cartaz está escrito: “Você tem que passar pela tempestade para chegar no arco-íris”

Ao encontrar e falar com pacientes com tumor cerebral, descobri que uma característica marcante deles é o seu apego à esperança. Muitos encontram forças na esperança de que um grande avanço está próximo e de que serão os primeiros a se beneficiar dele. É legítimo da parte deles, tendo em conta os rápidos desenvolvimentos no entendimento sobre a genética dos tumores cerebrais.
Outros encontram apoio para sua esperança na sobrevida de muitos afortunados aos quais havia sido dado um prognóstico pouco favorável, como foi o seu e o de minha esposa, mas que apesar disso sobrevivem por anos. Encontrei um bom número deles na América do Norte e na Europa. Eles não sabem por que são os poucos sortudos, mas eles aproveitam intensamente os dias que lhes restam. Alguns pesquisadores, ao tentar entender as características comuns desses pacientes, descobriram, por exemplo, que pessoas com uma idade próxima a sua, 29 anos, tem uma maior chance de sobreviver por mais tempo e uma capacidade maior de responder aos tratamentos médicos. Espero que já lhe tenham informado sobre isso.
Ainda há outros que vivem na esperança de que, mesmo não respondendo bem aos tratamentos, terão a chance de se conciliar com a vida nas semanas finais — que, por exemplo, amarão muito e serão muito amados, dirão palavras por longo tempo guardadas às pessoas queridas, e que trarão paz para si e para os que os cercam. Pude constatar que, com a ajuda de auxílio médico adequado, é possível aproveitar estes últimos momentos.
Perturba-me pensar que você talvez não tenha levado em conta o efeito que o seu exemplo e palavras podem ter sobre as dezenas de milhares de companheiros com a mesma doença que nutrem essas esperanças. Penso que nenhum de nós tem o direito de lhes tirar essa esperança. Se sua história não lhes fizer sentir que deveriam tomar uma decisão semelhante a sua de se suicidar, ela pode certamente fazer com que se preocupem com o fato desta ideia estar se instalando mais firmemente na mente dos seus amigos, parentes e da própria sociedade — incluindo os jovens e saudáveis representantes da geração Y que já tem uma grande dificuldade para lidar com realidades como a doença e a deficiência.
Preciso lhe dizer com toda a sinceridade que, nos fóruns de discussão online só para pacientes, todos manifestam solidariedade e oram por você, mas não estão de acordo com a sua atitude. A pressão para aprovar o suicídio assistido como uma solução para pacientes como eles não atenua o seu sofrimento, mas o agrava.
Certamente, ainda não é tarde demais para que você tome um outro rumo. Eu respeitosamente lhe peço que considere essa possibilidade, por você e pelos seus companheiros ao redor do mundo que estão sofrendo o mesmo drama e que optaram por viver com esperança em seus corações.


Obs.: Brittany Maynard faleceu em 01/11/2014.
(Texto publicado em 24/10/2014 na revista eletrônica Mercatornet)

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A cada nova notícia que vejo contra a vida humana, tenho mais certeza de que nosso real chamado é ir contra esta corrente, que tira as esperanças com mensagens enganosas e com promessas de conforto.A carta de Denis Strangman não foi o suficiente para mudar a opinião de Brittany Maynard, e não cabe a ninguém julgá-la, mas, com toda certeza suas palavras foram uma injeção de esperança e fé para aqueles que aqui permanecem lutando. Além, de lhes confirmar que não estão sozinhos. 
#razõesparaacreditar 
"Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração."Romanos 12:12

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